Outro dia nos escreveram com uma sugestão de pauta que achamos incrível: Home Office, que nada mais é do que poder trabalhar em casa, algo que se tornou tendência no Brasil de 2019 pra cá. Nos identificamos muito, pois é uma questão bastante feminina, ainda que num primeiro momento possa não parecer.
Por exemplo, quando a Marissa Mayer, CEO do Yahoo! cancelou a política que permitia os empregados trabalharem em casa, foram publicadas matérias sobre como essa decisão afeta principalmente mulheres e mães, inclusive na famosa revista Cosmopolitan.
Em tempo, uma pesquisa apresentada pelo Huffington Post apontou que as mulheres têm mais preferência por trabalhar em casa do que os homens.
Pensando nisso, por que políticas que promovem jornadas e locais de trabalho alternativos e flexíveis são um tema de maior interesse feminino?
Bem, não sei vocês, mas temos muitas leitoras que são as principais responsáveis pelo trabalho da casa e pelo cuidado das crianças, o que reflete a maioria da nossa sociedade, né? E isso toma muito tempo…
Também tem as escolas e creches que funcionam em horários diferentes dos escritórios, o que dificulta a rotina de quem cuida das crianças. Existem os compromissos como reuniões de escola, médicos ou até mesmo compras, que acontecem durante nosso expediente de trabalho. Isso que nem iremos falar da culpa e saudade que muitas sentimos por estar trabalhando e deixar nossos filhos na escola (aliás, tá na hora de deixar essa culpa de lado!).
A vontade de ficar com os filhos aliada à dupla ou tripla jornada de trabalho, faz com que muitas mães deixem de retornar ao trabalho após o fim da licença maternidade. De acordo com pesquisa da consultoria Robert Half, realizada em 14 países, em 85% das empresas brasileiras, menos da metade das mulheres continua na empresa após a maternidade.
E não é pra menos, né? Se já é complicado trabalhar e cuidar da casa, com filhos fica mais difícil. Seria preciso um dia com mais de 24 horas, pois é quase impossível dar conta de tudo!
Vantagens do modelo
A alternativa de trabalhar em casa nos dá mais tempo, pois não perdemos 1h ou 2h por dia nos deslocando até o escritório e permite que organizemos nossas tarefas com mais liberdade.
O fator “economia de tempo” + “flexibilidade de horários” = ganho de qualidade de vida! Um estudo feito pela Georgetown University, em 2010, apontou que 90% das pessoas que trabalhavam em casa consideravam o Home Office benéfico para o balanço entre vida pessoal e profissional. E nós, mulheres, somos quem mais se preocupa com isso.
Então Home Office seria a Oitava Maravilha do Mundo?
Bem, nem tanto! Primeiro porque essa “necessidade feminina” é fruto da falta de divisão de tarefas em casa. Home Office seria um paliativo para um problema maior, que necessita mudanças estruturais na nossa economia e sociedade. Segundo porque nem todo mundo têm possibilidade de escolher o próprio regime de trabalho. Terceiro, porque trabalhar em casa também tem suas dificuldades e armadilhas.
Há ainda um quarto e importantíssimo fator apontado pela Harvard Business Review: o fato de mais mulheres trabalharem de casa, pode afetar o desenvolvimento das carreiras femininas, uma vez que essas profissionais não teriam tantas oportunidades de fazer networking ou de conhecer áreas adjacentes da empresa.
Isso apenas corrobora outro estudo, que mostra que funcionários (independente de gênero) que trabalham fora do escritório têm menos chances de serem promovidos ou receber aumento de salário. Isso é chamado de “Estigma da Flexibilidade”, termo criado por Joan C. Willians, professora da Universidade da Califórnia e estudiosa no assunto.
Aí ficamos com um grande dilema (sim, mais um!): ao mesmo em que o Home Office nos permite maior equilíbrio, também pode ser prejudicial para nossas carreiras.